terça-feira, 22 de setembro de 2009

Hikari no Yoru

Konbanwa :)

Venho nesta noite trazer uma crônica feita por mim. Pois, nem só de desenho se vive um mangaká u.ux

A crônica conta o prelúdio de um Malkavian (um clã de vampiros da série Vampiro, A máscara) e o personagem é meu personagem atual de um rpg que jogo com meu namorado e minha prima.. (Na verdade, ainda não começamos, mas é só uma questão de tempo xP)...

Bem, espero que ao ler, vocês sintam o que eu senti ao escrever a história...

"Hikari no Yoru", "A noite da luz"



Acordei decidido a ir visitá-lo aquela noite.
Talvez fosse destino, talvez apenas azar. Ninguém em sã consciência poderia chamar de sorte... Mas, eu realmente nunca houvera sido alguém que possa ser chamado de são.

Então, apareci lá. Sozinho... Talvez eu fosse realmente muito mais louco naquela época. Adentrei por aqueles muros e masmorras, atravessando os jardins de magníficas rosas brancas, escalando a janela e percebendo o local mais belo que já houvera visto. Era um quarto. Toda sua decoração era vermelha de um vermelho muito puro e vivo, exceto pela rosa branca que pairava sobre uma escrivaninha como se fosse uma intrusa, como se estivesse em um território proibido.
Nunca havia visto aquele quarto, tampouco a casa ou o bairro, mas... era estranhamente aconchegante... Eu realmente queria estar ali... O gosto de proibido parecia hipnotizar-me e cada vez mais eu queria estar ali. Queria estar ali com a pessoa que vim procurar...

Onde estará ele? Talvez eu devesse procurar nos outros cômodos da mansão, mas quem sabe ele não apareça por aqui enquanto eu esteja vagando. Afinal, este deve ser seu quarto... Eu sentia isso em cada pedaço do meu corpo, havia cheiro de Hikari, cor de Hikari, gosto de Hikari... E esta, com certeza, era a razão que me fazia querer mais e mais permanecer ali sendo invadido por esta presença doce, gentil e proibida...

Enquanto minha mente se perdia analisando cada detalhe daquele extasiante local, pude ouvir uma voz que roubou meus profundos pensamentos "quem está aí?!" e, abrindo a porta que mais cedo eu houvera esperado ansiosamente para ser aberta, surgiu um garoto com um pouco mais de idade que eu e trajando-se inteiramente de vermelho como este quarto.

Ele não parecia estar feliz. Ele morava nesta casa? Mesmo que sim, este, com certeza, não era o quarto dele, então não havia motivos para temer. Sua aparência também não lembrava em nada aquele que eu estivera esperando. Seus cabelos eram ruivos, sua pele rosada e ele parecia mais alto e forte que Hikari... Não que houvessem muitos mais delicados que Hikari, que era tão leve quanto uma brisa.

Enquanto divagava sobre o porquê de alguém assim entrar no quarto de Hikari sem ao menos bater, minha mente insana tomou a frente: "Sou um convidado de Hikari. Estou esperando por ele... Você poderia avisá-lo que cheguei?". Realmente, eu era muito mais louco que qualquer outro de minha espécie; mas, invadir a casa de outra pessoa que nem conheço e mentir para um dos possíveis habitantes da casa passou um pouco dos limites. Talvez eu estivesse embriagado pela aura e cheiro deste quarto... Ou talvez meu objetivo só valesse a pena.

O "invasor" mostrou-se surpreso por um momento e depois, um pouco decepcionado "Por q... Droga..", concordou em trazer minha tão esperada luz até mim. "De qualquer forma, é perigoso ficar sozinho aqui.. E, se você é dele, não posso deixar que corra perigo... Não quer vir comigo?"

"Perigoso"... Ao falar isto, seu olhar preencheu meu corpo inteiro completamente com um forte gosto de medo. Senti como se meu corpo fosse despedaçar-se e percebi, naquele momento, que, embora não quisesse deixar aquele recinto, fazê-lo seria o mais coerente. "Ok...".

Fomos andando pelos corredores do castelo, que parecia totalmente vazio, exceto pela sensação de estar sendo observado pelas paredes e pelo meu companheiro que parecia murmurar algo deprimidamente enquanto me levava.

Após passar por muitos cômodos e corredores, percebi que todos eles mesclavam tons de dourados, azuis e vermelhos em tons de realeza e imaginei se Hikari e seus pais eram adoradores da arte barroca. E, virando uma esquina, avistei a estonteante figura deificada do meu tão querido amigo.

Ignorando totalmente a situação e a presença de telespectadores, ficamo-nos olhando por longos minutos como se estivéssemos paralisados. Hikari estava deslumbrante, vestia vermelho e dourado, como todo o resto da mansão, seu cabelo estava trançado levemente e fluía por sobre seu ombro até sua cintura. Seus olhos pareciam estar mais claros naquela noite e sua pele mais pálida.

Senti-me então ser puxado pelo braço pelo ruivo presente na cena. Acordei, então, do meu transe causado pela graciosidade personificada na minha própria frente e enrubesci-me pelo gesto daquele que havia me desperto. Também percebi a presença de uma garota no local. Seus cabelos eram morenos e ondulados como o mar numa noite escura e seus olhos verdes a tornavam bem bonita para padrões normais de beleza. Mas, mesmo assim, ao chegar, não havia ao menos notado sua presença estando ela ao lado de Hikari.

Mas, agora, não podia deixar de notar. Seus olhos estavam direcionando todo o ódio que ela possuía dentro daquele pequeno corpo a mim. Sua aura assassina poderia ser sentida a distância. Será que eu atrapalhei algo? Hikari pareceu sentir algo e sua expressão mudou subitamente para uma mais séria e um tanto mais preocupada: "O que veio fazer aqui?".

O olhar assassino que antes era lançado a mim transformou-se em um sorriso irônico enquanto a responsável por eles graciosamente dançava até mim. Hikari pareceu assustado e gritou "Johanna! Fique quieta!". Era a primeira vez que eu havia visto Hikari falar sério. Senti-me um pouco empolgado com a possibilidade dos acontecimentos desta noite. A sensação de medo sentida por Hikari parecia alimentar minha crueldade e acalmar as vontades mais profundas da minha alma. Eu realmente queria ver Hikari em apuros... Adoraria vê-lo chorar ou gritar... Mesmo que seja muito difícil para qualquer humano comum admitir isto.

Sendo embalado pelo balançar dos cachos negros da garota, fui ouvindo o que ela tinha a me dizer: "Será que você é amigo de Hikari-samma? Parece que você é bem importante pra ele..." falou a graciosa garota enquanto sentava-se à mesa ao meu lado.

Como um príncipe a me defender, o ser mais belo desta sala moveu-se para entre eu e a sereia e falou "Esqueceu-te do que sou?! Saia agora daqui! ". Naquela hora, sua voz foi tão fria e dura que meu coração gelou e parou de bater por um momento.

Johanna pulou da mesa enquanto começava a chorar: "Claro que eu não esqueci! Como seria possível? Você é o ser imortal que vaga por séculos. Você é aquele que alimenta vida com vida. Aquele que não está mais entre nós, mas que não pode ficar em lugar nenhum além de 'entre nós'. Você é um vampiro que esconde sua verdadeira natureza através desta linda máscara! Você é o que mais quero ser na vida! Mas, me priva disso pelo que VOCÊ decidiu ser "meu bem"!! Você o trouxe aqui para transformá-lo? Por que ele?!".


Hikari olhou pra mim e soltou um "não" gélido e triste, era a primeira vez que eu o via tão abalado. Ele tremia enquanto tentava nitidamente não deixar cair as lágrimas que se acumulavam em seus belos olhos. Fiquei observando sua dor e talvez por medo ou talvez por prazer não me atrevi a aproximar-me.

--

Já havia algum tempo que ele estava sentado naquela bela poltrona vermelho-sangue com a cabeça baixa. Então, ele me perguntou "... Por que só você ficou aqui?". Só aí eu percebi que a sala estava vazia e suas portas fechadas. "Nem assim tem medo de mim?", eu continuava a ser bombardeado por perguntas que nem mesmo entendia.

"Ora, por ser um vampiro? Na verdade, acho que isto só me alivia... Você sempre foi tão apaixonante, pelo menos agora eu sei por quê..." falei deixando de lado meu medo/prazer de ver seu sofrimento e me ajoelhando aos seus pés próximo à cadeira.

Ele olhou pra mim com os olhos mais insanos que eu já vira em toda minha vida. Ainda eram azuis, mas apresentavam vibrantes fagulhas de luz vermelha que pareciam cortar minha garganta. Tocou levemente meu queixo inclinando minha cabeça levemente para trás com seus dedos gélidos e sussurrou "Eu sou um monstro... eu preciso roubar as vidas dos outros se pretender viver. Eu matei meus pais, minha família, meus amigos, matei todos pra ficar vivo e sozinho no final... Que tipo de demônio cava sua própria cova e enterra todos os outros ao invés de você mesmo?".

Alguns fragmentos da dor a qual ele se referia transpassavam a mim através de seu olhar e de seu tom de voz... A dor era realmente enorme... Não havia mais a quem ele amar, ele não podia amar alguém sem matar. Mas, o que eu acreditava era diferente: "Eles não tinham direito de viver. A vida deles era apenas emprestada. Eles teriam que devolvê-la no final. Mas, e a sua? Só você, meu príncipe, merece viver por todos os anos e ver todas as coisas. Se você tem este poder é por que alguém, também merecido, acreditou que você merecia, não é? Só alguém como você poderia aguentar tanto tempo sozinho.. Somente sua presença, pela eternidade, é suficiente para satisfazer alguém plenamente. Eu realmente não me importaria de ficar sozinho comigo mesmo se eu fosse tão perfeito quanto você."

Aquele belo ser que dividia o recinto comigo começou a demonstrar sentir dor e contorcer-se. Seu cheiro começou a ser mais e mais sedutor e parecia me guiar até ele, mas eu estava totalmente incapaz de me mover como se estivesse dopado. Hikari disse com alguma dificuldade "P-por favor... não... Ele não..." enquanto andava até mim com seu corpo que emanava luz como seu próprio nome sugeria e, deitando-se sobre mim, derramou uma lágrima e sussurrou "desculpe...".

Então, senti como se minha alma fosse ser sugada, era uma sensação de alívio, liberdade.
Eu sentia como se minha vida se esvaísse do meu corpo através do rompimento na minha artéria aorta feito por Hikari.
Cada gota de sangue que deixava meu corpo parecia me preencher de um vazio que me tornava cada vez menos humano, menos vivo era tudo mais negro e calmo...
Em todo o processo, não havia dor nenhuma, eu estava completamente anestesiado...
Então veio algo diferente, era como se os espaços vazios estivessem sendo preenchidos com uma sensação de prazer, era tão forte que eu mal podia respirar, eu sentia como se meu corpo pudesse dissolver-se a qualquer momento naquele doce e inebriante aroma.
Então, meu corpo não era mais eu. Eu estava morto, exatamente... Sentia-me um casulo vazio. Não, não era eu. Era apenas o casulo. Não é como se eu fosse capaz de pensar, falar ou tomar conhecimento de mim mesmo naquela forma. Minha mente ficara apagada até que eu senti algo de novo...

Posso dizer que a primeira sensação que senti na minha nova vida foi a mais deliciosa e prazerosa que podia ser. Era doce, levemente alcoólico e muito muito triste. Havia muita dor, sofrimento, angústia; mas, mesmo assim, possuía a mais doce fragrância que já houvera sentido. Seu teor alcoólico era bastante para fazer-me relaxar completamente como se estivesse no céu, mas não o suficiente para destruir a perfeita doçura da bebida.
Quando abri os olhos, estava sendo beijado com sangue por Hikari, mais uma vez, meu corpo estava dissolvendo-se de prazer. Que bebida fatal era o sangue, ainda mais o seu sangue. Era como se seu beijo e sangue disputassem qual dos dois iria me derreter por completo primeiro. Eu não me importaria de morrer agora, eu poderia viver outra vida inteira de novo pra sentir isto... Mas a minha real vontade era passar minha vida, ou morte, inteira assim... pertencendo a Hikari.

Ao perceber que eu havia acordado, o que não pareceu ser muito difícil pela leve convulsão que sofri ao vê-lo sobre mim, Hikari parou de me alimentar e, ao mesmo tempo, de alimentar minha alma. Cessado o beijo, eu percebi que seu rosto parecia o de alguém num velório. E, de fato, era isto que ele havia presenciado, aquele era meu velório. Eu estava morto agora. Livre para sentir todos os tipos de sensações novas com Hikari para sempre.

O olhar de Hikari era tão triste e azul, de um azul puro como o céu e, estranhamente, me parecia incrivelmente muito mais belo. Não só seu olhar, mas, seus cabelos dourados reluziam muito mais que o sol de verão, sua pele era tão branca quanto neve, seu sangue que escorria pelas nossas bocas era doce e do vermelho mais lindo que já vira na vida. Nossos olhos cruzavam-se, um estava observando o outro. E, embora tenha uma aura muito mais deificada que qualquer outra pessoa, ele parecia tão alucinado quanto eu.

Após algum tempo, percebi que estava naquele ambiente pelo qual cheguei a casa. Realmente, deveria ser o quarto de Hikari. Não havia nenhuma mudança no local, mas a flor branca em cima da mesa curvou-se perante a beleza de Hikari e murchou. Acordando Hikari do transe que preenchia nossos olhares, minhas palavras acabaram transformando-se involuntariamente em sussurros: "Hikari...". Hikari pareceu se recompor virando um pouco os olhos pra cima e olhando de volta: "V-Você também herdou a beleza... Então... não fale desta forma..." enquanto silenciava minha boca com seu dedo indicador.

Como se vendo através da minha alma que eu não entendera, ele aproximou-se de mim e sussurou em meu ouvido: "Não é fácil resistir se você fala assim". Aquele doce som chegou aos meus ouvidos penetrando por todo meu corpo e alma. Minha mente parou por um instante para saborear aquele manjar dos deuses que havia chegado a partir de meu canal auditivo. Logo que o efeito passou, tornei a olhar pra Hikari concordando com a cabeça.

Assim como já acontecera em outras ocasiões, depois de uma brincadeira, Hikari já parecia mais leve e me presenteou com um lindo sorriso bondoso. Neste ponto, talvez eu já soubesse que estava apaixonado; mas, provavelmente, meu espírito ainda se negara a perder toda a diversão da dúvida em troca de segurança e certeza. O cheiro de perigo é sempre maior onde há insegurança e perigo tempera muito bem a paixão.

Meu novo lorde levantou-se e foi até a mesa, roubando delicadamente uma taça com um líquido vermelho que eu julguei ser sangue e deixando-a ao lado da cama, me disse "Você descansará um pouco e eu vou explicar aos outros o que houve" enquanto sorria delicadamente.
Eu não queria... Não queria passar um só segundo sem ver meu deus, nunca dê a uma criança um doce e roube-o na metade. Meu imortal doce infinito não pode ser tirado de mim. Embora minha vontade fosse de agarrar seu braço firmemente e fincar-me nele para que nunca nos separemos, meu corpo não se moveu contra o que havia decidido meu senhor. E eu apenas pude dizer com dificuldade "N-não vá..." enquanto tentava em vão esticar meus braços em direção a ele.

Seu sorriso neste momento era misterioso e parecia me convidar para brincar. Um convite letal e irresistível que eu não recusaria. Este sorriso era exatamente o ponto daquela luz que me fazia tanto sonhar com o amor quanto tremer pela paixão que eu sentia por ele.

Hikari-samma veio, beijou-me e eu entendi que minha verdadeira vontade era fazer o que ele queria, deitei e fui acalentado pelo delicioso cheiro do dono daquela cama macia.

--

Não havia chuva, mas os relâmpagos presentes naquela noite pareciam desesperadamente tentar cortar a escuridão que pairava sobre nós... Meu pequeno corpo estava envolto na costumeira felicidade gentil e despreocupada que sempre houvera presenciado. Kaa-san, to-san, aniki e nee-chan, cada um de nós tinha um guarda-chuva branco como a neve e vestia a mesma cor.

Mas, então, a chuva começou. Não era uma chuva como as outras, ela era grossa e exalava um odor levemente peculiar, algo que eu já houvera sentido. Olhei para cima e meu guarda-chuva estava coberto de um vermelho vivo... Vivo demais para ter sido produzido artificialmente, vivo demais para vir de uma criatura não viva...

Meu instante de admiração daquela beleza demoníaca foi então cortado por um gemido leve e triste... Voltei meus olhos à criatura responsável pelo meu despertar e, encontrei um pequeno gato, dourado, envolto em visivelmente poderosas chamas azuis. Os olhos do gato olhavam para mim repletos de sinceridade e tristeza, eu sentia-me sufocado, era muito pior que qualquer fogo que já houvera sentido, era muito mais gélido e doloroso. Empurrei meu próprio corpo tentando ajudar aquela linda criatura. Aqueles olhos não podiam morrer... mas, meu corpo já havia sido paralisado.
Desesperei-me e, em busca de auxílio, olhei para trás e percebi uma aura tão terrivelmente branca que desesperadamente sufocava-me e impedia de gritar delicadamente cobrindo toda minha família e impedindo-os de se manchar com a chuva vermelha. Sendo anestesiado e tendo toda a dor causada antes roubada de mim, eu era sugado para aquele sentimento de paz e pureza enquanto tentava agarrar-me à dor do pequeno.

Quando finalmente recuperei minha consciência, vi okaa-san abaixar os olhos e suspirar tristemente como se perdesse algo muito importante, nee-chan chorava e agarrava-se a seu pequeno animal de pelúcia como se isto pudesse aliviar seu sofrimento enquanto os outros membros me olhavam com desdém.

Corri até o pequeno animal, toquei-o e o tomei em meu colo enquanto era sugado pra dentro das chamas ardentes e gélidas. Aquelas chamas eram como estacas que perfuravam o interior da minha alma. Não causavam dor à pele, mas eu sentia meu espírito ser estilhaçado pelo balançar do fogo enquanto acariciava o gato flamejante coberto de vermelho.

Rocei meus lábios sobre o pelo do gato como se o acariciasse, beijei sua testa e senti, mais uma vez, aquele gosto proibido que misturava vida e veneno... Toda a dor havia ido embora, não sei se ainda havia chamas, mas aquele gosto adocicado havia ruborizado todo o azul, não havia mais dor em minha alma, apenas prazer e desejo.

E então, eu acordei...

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...no paraíso. A primeira visão daquela noite foi Hikari, com seus lábios transbordando sangue e a menos de cinco centímetros da minha face. Ele sorriu docemente enquanto apoiava-se em meu peito para levantar seu tronco e me disse "Obrigado por acordar..." num tom gentil e aliviado. Livrando-me das minhas perguntas sobre o porquê do agradecimento, ele continuou "Você dormiu por quatro dias e quatro noites... Sua família ligou vinte vezes seguidas para seu celular até que acabasse a bateria.".

Mas, não adiantava que ele me falasse sobre outras pessoas, eu só queria Hikari. Não queria deixar aquele lugar nunca mais, o lugar de Hikari, minha luz, meu doce sabor de veneno... "Hikari, eu...". Meu príncipe calou-me com um beijo, talvez por eu não conseguir falar normalmente ainda ou talvez apenas por ser Hikari, ele sorria como se fosse completamente feito de gentileza enquanto acalmava meus maiores medos: "Vou falar com sua família para que você fique aqui...".

"De qualquer forma, mesmo que você soubesse caçar, eu não deixaria que você o fizesse. Você também não poderá frequentar mais sua escola ou participar de atividades diurnas ou comer e agir humanamente. Mas, se eu não for falar com eles, eles ficarão preocupados, iniciarão uma busca ou se culparão pelo resto de suas vidas. Eu não quero... cometer erros novamente... Não com você."

Não procurei saber o que representavam suas dolorosas palavras, mas minha boca tornou-se seca e eu provei o mesmo amargo sentimento de meu senhor. Eu pensei que estivesse cada vez mais próximo de sentir-me como sendo um pedaço dele. Como um membro que recebe o mesmo sangue e os mesmos hormônios que as outras partes de seu corpo, e com eles todo o sofrimento, angústia e tristeza que preenchem seus pensamentos.

Enquanto divagava sobre meu enorme desejo de fazer parte do meu amo, observei seus passos até o armário vermelho levemente detalhado em dourado que cobria a parede esquerda do quarto e selecionava a única roupa branca que havia visto dentre as que estavam no meu diminuto campo de visão. Eram muitas peças de roupa, mas todas se encaixavam num único traje que parecia muito mais caro que todas minhas roupas juntas. Hikari as trouxe para mim e as colocou em meu colo enquanto eu estava hiptnotizado pela sua incrível beleza cada vez mais intensa e inebriante e disse: "Você vai tomar um banho para limpar este cheiro e nós vamos até sua casa.". O tom de voz de Hikari me dando ordens, ao contrário de antes, não me incomodava mais; ao contrário, obedecê-lo tinha um sabor de prazer e, como uma droga, me viciava mais e mais.

Então percebi que as roupas brancas eram para mim. Branco não é minha cor favorita, mas Hikari parecia sempre me associar àquela cor como se fosse um fardo a carregar. Branco é uma cor real, uma cor para reis e deuses, uma cor para Hikari, não para mim; eu pensava isto, mas a verdade era que eu não queria ver Hikari com cor nenhuma a não ser vermelho. Cor de pecado, um pecado doce que me embriagava de paixão cada vez mais num ciclo que eu esperava ser infinito.

Ao me levantar daquele ambiente quente e deliciosamente agradável, notei que minhas roupas haviam mudado, as que eu vestia, nitidamente, pertenciam a Hikari. Eram trajes leves vermelhos, com bordados dourados e botões de diamantes negros. Era tudo tão perfeito quanto seus trajes costumeiros.
Estranhamente, não senti-me invadido por saber que minhas vestes haviam sido trocadas por Hikari ou que ele havia me despido, tampouco ruborizei. Eu sentia como se agora fosse parte de Hikari e Hikari era parte de mim e eu estava muito completamente fora de mim mesmo para me importar com qualquer coisa a não ser com aquela luz rubra que havia roubado meu coração.

O banho ocorreu sem problemas, exceto pelo fato de ter me roubado o cheiro adocicado de meu príncipe. Mas, isto só me fizera sonhar e desejar mais minha próxima taça de paixão. A sensação foi como nunca houvera sentido, não chegou ao ponto de ser assustador, mas pessoas com sanidade intacta, provavelmente, ficariam horrorizadas. A água, ainda mais gélida que eu mesmo, escorria pelo meu corpo sem vida. A sensação era de que aquele corpo não pertencia mais a mim, de que não havia mais vida. Finalmente percebi que estava morto. Como pode o mesmo corpo que se eleva ao ápice do prazer com apenas um toque de Hikari não poder sentir a água que escorre por entre os dedos?

Eu estava pronto, havia sido purificado da sensação proibida e venenosa que me preenchia. Em outras palavras, estava sedendo por minha luz novamente. Ainda secava meus cabelos negros enquanto saia do banheiro em direção ao quarto e avistava meu objeto de desejo. Ele vestia preto pela primeira vez hoje, mas isto não tirava nada de sua elegância e beleza. Ainda era uma roupa da realeza, havia feixes prateados e seus cabelos dourados estavam soltos e brincavam no vento. Percebendo meu transe e sequestrando-me dele, Hikari levantou-se e andou até mim sorrindo e aproximando lentamente nossos rostos para sussurrar em meu ouvido "Você fica lindo de branco.”. Ele sabia que eu não gostara de vestir branco, sabia também que eu fantasiava vê-lo vestindo branco real e prateado e, justamente por isso, seu tom de voz sarcástico era irresistível. Recusando minha obscura vontade, contive-me apenas em dizer "quero que tinja de rubro estas vestes quando voltarmos". Ele pareceu levemente perturbado e enquanto eu deliciava meu doce e raro momento de vitória, nós nos dirigimos à parte de fora do castelo para irmos até minha antiga moradia.

Durante a viagem, meu amo olhava preocupado o belo cobertor de estrelas que nos abençoava esta noite através da janela daquele incrível eclipse conversível vermelho que dirigia como se sentisse algo no ar. Eu, no entanto, estava muito fascinado por tamanha beleza para buscar o porquê daquela adorável face repleta de seriedade e inquietação. Oh! Como desejara encharcar meu Hikari com aflição e dor, adoraria ser objeto de medo do meu amado... Adoraria ter aquele doce rostinho feito por mim e só pra mim... Mas, talvez eu devesse ter aproveitado melhor as chances. Meus deslumbres e fantasias foram interrompidos por aquela já conhecida e inesquecível melodia "Yoru... Seremos bem rápidos. Vamos falar com seus pais e sair da cidade.". Eu, costumeiramente era chamado de Hiten, exceto por Hikari, ele possuía uma permissão especial para chamar-me do que preferisse. Para ele, eu não poderia ser como o sol que machuca e segrega as raças selecionando umas em detrimento das outras. Para ele, eu era como a noite, sombria e aconchegante... E facilmente curvável a qualquer raio de luz.

Recuperando um pouco de minha lucidez, respondi prontamente a Hikari "Entendi perfeitamente... Há algo de errado?". Hikari sofrejou-me cada sílaba com um pouco de dificuldade, como se as mesmas fluíssem machucando sua própria boca "An... jos...". Meu corpo experimentou uma deliciosa nova sensação de medo e eu nem mesmo sabia o porquê.

Fomos capazes de chegar até minha antiga casa, paramos o carro em sua frente e, ao descermos, sentimos um poderoso cheiro de incenso. Hikari portava uma enorme arma estrangeira com um formato bastante exótico. Um sabor amargo e enjoante tomou conta de minha garganta. Eu poderia vomitar se aquilo que preenchesse meu estômago não fosse o ser que eu mais amava no mundo. Enquanto minha visão empalidecia, Hikari gritou "Vamos voltar! Yoru, saia daqui!". Meu corpo foi tomado por uma estranha energia, eu nunca o havia visto gritar desta forma, mas, certamente, foram aqueles gritos que me despertaram daquela prisão pura e luminosa que cheirava a santidade. Senti a macia e gélida mão de Hikari guiar-me de volta ao carro enquanto ouvia seus pesares: "Eles estão aqui... Já chegaram... Eu devia ter imaginado, não quero cometer o mesmo erro novamente... Não com você!". Até que fui forçado a parar.

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Algo segurava minha perna esquerda, algo forte e limpo. Uma aura prateada envolvia o que me pareceu, à primeira vista, ser um tipo de chicote antigo como um azorrague. Olhei mais cuidadosamente e percebi que aquele estranho instrumento possuíra cruzes em cada uma de suas pontas. Todas eram afiadas e algumas haviam perfurado minha carne e atingido meu sangue. Ao ver meu próprio sangue, senti como se fosse perder minha mente; o branco sem vida que vestira agora estava ornado de um belo e vivo vermelho que teimava em absorver minha sanidade. Hikari pulou em minha frente ao mesmo tempo em que me segurava com força suficiente para me quebrar ao meio e disse: "Deixa-o ir! Vocês não o querem!".

Aquelas palavras revelaram dois seres antes escondidos nas sombras formadas pela torre do relógio de minha antiga casa ao mesmo tempo em que okaa-san e nee-chan corriam para fora chorando desesperadamente. Okaa-san gritava e chorava como se disputasse sua insanidade com a minha enquanto agarrava a cabeça de minha irmã contra seu colo. Meu irmão, que, acompanhado de meu pai, havia sido revelado pela luz de Hikari, olhava-me com desprezo e sussurrava as palavras mais desagradáveis que sua sacralidade lhe permitia "Como você pode..? Você deveria ter vergonha...". Papai apóiava sua mão em um dos ombros dele como se lacrasse ou proibisse alguma ação mais poderosa.

Enquanto todos se observavam, eu senti um leve cheiro de álcool vindo de Hikari. Os fios dourados de seda presos a sua cabeça voaram como fadas no ar enquanto ele rapidamente cortava o brilho do azorrague em dois com a arma que portara. Sem me dar tempo de sentir minha liberdade novamente, Hikari gritou "Não acontecerá novamente! Não com você! Eu te amo! Então, viva!". Eu senti pela última vez sua dor. Em seus belos olhos da cor do céu gotículas de água se formavam como um doce e gracioso chuvisco enquanto ele expelia toda sua dor através daqueles gritos dementes.

Então, eu senti a única arma que ele possuia fincar minhas vísceras enquanto eu era jogado a quilômetros de distância do meu mais intenso desejo em um lago próximo. Hikari havia deixado-me sozinho. Deu-me sua única arma me forçando a fugir e ainda me incapacitou de voltar até ele...
Não havia como sobreviver a tão imenso poder desarmado. Meu doce sangrento brinquedo havia sido levado de mim para sempre...

Será que eu estava sendo seviciado pelo grande pecado de me apaixonar por Hikari? Agora eu estava banhado em vermelho; mas, não havia Hikari... Não havia dor, tampouco prazer... Não havia vida, nem morte... Insanidade, nem loucura... Frio ou calor... Pecado ou amor... E sem minha luz, eu era apenas um cego na escuridão esperando a morte tomar meu corpo outra vez...


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Espero que tenham gostado ^__^x
Pretendo escrever mais assim que o rpg começar e as aventuras forem surgindo =)
Não sei se deu pra perceber, mas a mente de Yoru é bem 'malkavian' xD isto, por que ele já escreve a história após ela acontecer (tudo no passado =))...

Hm.. Bem.. Também devo escanear os desenhos pra postar aqui ^.~x Então fiquem de olho..

Até mais e Muito obrigada pela leitura =)
E, por favor, comentem >.< x

2 comentários:

  1. Vish!! '-'

    Não sou muito fã de Yaoi, mas você escreve bem pra caramba!!!!! xDD

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    1. Ah, jura? XDD obrigada!!

      Tem o resto do livro (ainda não acabou, mas quando eu vou fazendo, vou postando lá) aqui: http://yorunohikari.com/
      E eu tou fazendo um que não é yaoi agora xD que eu pretendia lançar em algum tempo... mas, acabei com outros afazeres (faculdade, aula de piano, trabalho) >.<x

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